Ecologia e sustentabilidade

Manter a Amazônia em pé rende muito mais ao Brasil

Em novembro de 2018, o professor Britaldo Soares Filho, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), publicou na revista científica Nature Sustainability o estudo “Valoração Espacialmente Explícita dos Serviços Ecossistêmicos da Floresta Amazônica Brasileira” em parceria com o Banco Mundial.

A equipe, integrada por pesquisadores de várias universidades brasileiras, precificou, em valores líquidos, um pequeno número de serviços que a Amazônia oferece.

O estudo concluiu, por exemplo, que o valor somado de diferentes serviços pode chegar, em determinadas áreas, a US$ 737 (R$ 3 mil) por hectare por ano. Esse valor é muito superior à renda gerada pela pecuária de baixa produtividade praticada na Amazônia — cerca de US$ 40 (R$ 167) por hectare por ano, segundo os pesquisadores.

Revelou também que mais de 5 milhões de pessoas se beneficiam hoje da extração sustentável de alimentos e de matérias-primas da floresta como castanha, borracha e açaí.

“O amazônida é aquele que vive da floresta, sabe do valor e não desmata. Quem desmata são os forasteiros que entram ilegalmente.” – afirma Raoni Rajão, especialista em gestão ambiental e validação econômica.

Apesar da grande contribuição desta economia extrativista ao país, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é baixo nesta região porque não há escolas, hospitais, etc… e de acordo com a pesquisa o extrativismo rende mais que a pecuária.

Mesmo assim, o produtor ainda continua na pobreza. Segundo Rajão, para reverter esta situação é necessário agregar valor modernizando a produção. “Em vez de vender o produto para um atravessador, é preciso organizar cadeias de valor onde a maior parte do lucro fica no local.”- afirma.

Contudo, para a Amazônia chegar nos moldes da indústria 4.0 há de se ter uma visão de longo prazo, investimento pesado em ciência e tecnologia e grande esforço de capacitação.

A conservação dos rios também aquece a bioeconomia. Foto: Pixabay

A importância dos rios voadores

Neste estudo da UFMG foi também observado a renda que a floresta gera indiretamente ao prestar dois outros serviços: a absorção e retenção do carbono que produz o aquecimento global e a regulação do clima.

De acordo com o climatologista Antônio Nobre, o quadrilátero que compreende a área que vai de São Paulo até Buenos Aires, na Argentina, e de Cuiabá até a cordilheira dos Andes gera 70% do PIB da América do Sul. E isto acontece graças aos chamados rios voadores que fluem da Amazônia transportando umidade.

E como é que este processo acontece?

Os fluxos aéreos maciços de vapor de água que vêm de áreas tropicais do oceano Atlântico são alimentados pela umidade que se evapora da Amazônia e viajam mais de 3 mil km pela atmosfera levando chuvas e irrigando o sul do Brasil, Uruguai, Paraguai e norte da Argentina.

Os rios voadores são, portanto, vitais para a produção agrícola e a vida de milhões de pessoas na América Latina além de contribuírem com os reservatórios das hidrelétricas.

Neste estudo foi apontado também “áreas sem destinação” que abrangem 62 hectares de floresta em áreas públicas que não tiveram o seu uso definido pelo governo seja como área de preservação ou reforma agrária, por exemplo.

Esta indefinição pode incentivar a ocupação ilegal e o desmatamento para dar lugar à pecuária.

A chuva gerada por esses 62 milhões de hectares contribui, anualmente, com US$ 422 milhões (R$ 1,77 bilhão) para a produção agropecuária. Isso equivale a 35% da renda líquida das lavouras de soja no Mato Grosso, principal estado produtor brasileiro.

Ou seja, se essas áreas forem desmatadas, o setor perderá mais de US$ 400 milhões (R$ 1,68 bilhão) por ano pela queda de produtividade resultante da diminuição nas chuvas.

Fonte: BBC 

 

 

 

Revista Ecos da Paz

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