Cultura

A única companhia de ballet de cegos do mundo é brasileira

“Nunca diga não à um desafio, pois são desses desafios que partem os maiores ensinamentos que nós temos nas nossas vidas.” Esta frase foi dita pelos pais da fisioterapeuta e bailarina clássica Fernanda Bianchini, quando eles frequentavam como voluntários o Instituto para Cegos Padre Chico em São Paulo.

Em 1995 Fernanda era uma jovem voluntária de 15 anos, quando foi surpreendida com o convite de uma das religiosas do instituto para ensinar ballet clássico para os alunas cegas.

O desafio foi aceito, mesmo sem experiência de trabalhar como professora. E no primeiro dia de aula, ao dar as instruções sobre determinado passo de dança, Fernanda pediu para que imaginassem que saltavam para fora e para dentro de um balde, mas uma de suas alunas mostrou-lhe mais um desafio: entrar no mundo dos cegos, afinal ela nunca tinha “visto” um balde.

Fernanda percebeu que era primordial entender todas as limitações das suas alunas para depois lhes apresentar o mundo do ballet. A partir desta troca mútua que ela criou um método próprio de ensino.

O desafio da criação

Seu método pioneiro teve êxito e é ensinado no Brasil e no exterior para ambos os sexos. O aprendizado da dança clássica se dá por meio do toque e da repetição de movimentos.

Quem tem contato com o trabalho percebe a sensibilidade artística que se construiu a partir do conhecimento e dedicação da bailarina que, desde então, guiou centenas de deficientes a inúmeras conquistas.

Fernanda destaca que enquanto bailarina, nunca dançou certos repertórios e tão pouco viajou em turnê como os seus alunos estão fazendo. Este grupo de bailarinos já participou de apresentações na Argentina, Inglaterra, Alemanha e nos EUA. E traz na lista de repertório Copélia, Quebra-Nozes e Dom Quixote.

O voluntariado da jovem de 15 anos deu origem a Associação Fernanda Bianchini – Ballet para Cegos (ABF), criada formalmente em 2003, e que atende cerca de 400 pessoas, de crianças até a terceira idade.

A grande maioria dos alunos é de deficientes visuais, mas a associação atende também os outros tipos de deficientes: físicos e intelectuais. Existe também o desenvolvimento de uma metodologia para ministrar aulas de Ballet Clássico para cadeirantes.

Atualmente, a ABF conta com 13 professores de dança, entre eles, as deficientes visuais Geyza Pereira da Silva e Verônica Batista, formadas na própria entidade, e a gestora Fernanda Bianchini, que trabalha como voluntária.

Para promover saúde e bem-estar aos bailarinos, a grade de atividades da Associação conta com exercícios de Pilates e fisioterapia. Essas aulas são extensivas a qualquer pessoa que queira ingressar nos grupos, mas são pagas, porque a arrecadação serve para ajudar a manter a instituição. No vídeo abaixo, confira a dimensão de um trabalho que vem mudando a forma de ver o mundo.

A manutenção da entidade se dá por meio de apoios corporativos, doações de empresas,  participação em eventos, além das palestras de Fernanda Bianchini, que apresenta a metodologia de ensino para pessoas com deficiência visual e histórias de seus alunos, com objetivos motivacionais. Doações de pessoas físicas e mensalidades de alunos pagantes são outras formas de manutenção.

Fernanda costuma dizer que uma bailarina deve sempre olhar para as estrelas, ainda que não as enxergue.

 

 

Revista Ecos da Paz

Viver em harmonia é possível quando abrimos o coração e a mente para empatia e o amor.

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