Cultura

A primeira romancista brasileira era negra e professora

 

Maria Firmina dos Reis foi ousada para sua época. Nascida em 11 de março de 1825 no Maranhão, na ilha de São Luís, Maria Firmina teve uma importante participação na vida intelectual deste estado.

Sua formação deveu-se muito ao fato de morar com uma tia materna no município de Viamão na Vila de São José de Guimarães. Também fora incentivada por seu primo Sotero dos Reis, que era escritor e gramático a lecionar. Maria passou na prova e por 34 anos exerceu o magistério.

Em 1859 publicou seu primeiro romance “Úrsula” em que narra a condição da população negra. Esta obra é classificada como um dos primeiros escritos de uma mulher negra brasileira relatando de maneira pungente elementos da tradição africana.

Numa época de intensa segregação social e ainda mais por ser mulher, Maria Firmina se omite como autora e assina “Uma Maranhense”.

Uma escola dentro de um engenho

Ela foi uma educadora inquieta, pois discutia e se mobilizava sobre as questões da população negra e a escravidão. Em 1887, escreveu um conto sobre o  tema, “A escrava”, e, em 1871, publicou a obra de poesias Cantos à beira-mar e colaborou para diversos jornais literários.

Ao se aposentar, no início da década de 1880, funda a primeira escola mista gratuita do estado do Maranhão. Essa iniciativa causou escândalo no povoado de Maçaricó, e a escola foi fechada.

Faleceu em 11 de novembro de 1917, em Guimarães, município do estado do Maranhão. Um exemplo de vida dedicada a ler e escrever, produzir textos. Uma obra que abriu novos horizontes para as mulheres negras brasileiras.

Maria Firmina dos Reis morreu, cega e pobre, aos 92 anos, na casa de uma ex-escrava, Mariazinha, mãe de um dos seus filhos de criação. Ela é a única mulher dentre os bustos da Praça do Pantheon, que homenageiam importantes escritores maranhenses, em São Luís.

Abaixo, um dos seus poemas:

Nas praias do Cuman / Solidão

Aqui na solidão minh’alma dorme;
Que letargo profundo!… Se no leito,
A horas mortas me revolvo em dores,
Nem ela acorda, nem me alenta o peito.
No matutino albor a nívea garça
Lá vai tão branca doudejando errante;
E o vento geme merencório – além
Como chorosa, abandonada amante.

E lá se arqueia em ondulação fagueira
O brando leque do gentil palmar;
E lá nas ribas pedregosas, ermas,
De noite – a onda vem de dor chorar.

Mas, eu não choro, lhe escutando o choro;
Nem sinto a brisa, que na praia corre:
Neste marasmo, neste lento sono,
Não tenho pena; – mas, meu peito morre.

Que displicência! não desperta um’hora!
Já não tem sonhos, nem já sofre dor…
Quem poderia despertá-lo agora?

Somente um ai que revelasse – amor.

– Maria Firmina dos Reis, em “Cantos à beira mar”. São Luís do Maranhão, 1871, p. 177-178.

Fonte: Templo Cultural Delfos, Observatório do 3º setor

Revista Ecos da Paz

Viver em harmonia é possível quando abrimos o coração e a mente para empatia e o amor.

Share
Published by
Revista Ecos da Paz

Recent Posts

Quem você chama de herói?

Ler não é simplesmente decodificar palavras, mas também interpretá-las. Aquele que consegue ler a sua…

2 anos ago

A viagem interior de Cecília Meireles em 7 poemas

Cecília Meireles nasceu no comecinho do século 20, em 7 de novembro de 1901. Apesar…

2 anos ago

“Uma trégua para a alegria” – uma boa reflexão de Lya Luft

Realmente não temos tido bons motivos para rir e listar esses motivos não é necessário,…

2 anos ago

Reality shows não são mais os mesmos

Especialistas em comunicação afirmam que a Europa Ocidental e Estados Unidos já conheciam reality shows…

2 anos ago

O Brasil também teve Holocausto

O dicionário Priberam online define a palavra Holocausto como: [ RELIGIÃO] Sacrifício em que a…

2 anos ago

Beldroega, uma PANC no combate à Diabetes

Portulaca oleracea, mais conhecida como Beldroega. Ninguém dá nada por ela, chamam de mato, erva…

2 anos ago