‘A recuperação dos criminosos’

Todos sabem que as penitenciárias são escolas do crime. Não se sabe de um criminoso que tenha sido reformado pelo sistema penitenciário.

Juntando-se criminosos num mesmo lugar é certo que pensarão maneiras mais eficientes de realizar o crime. Da mesma forma como torcedores de um mesmo time, juntos, vão falar sobre o seu time. Um sequestrador recém-capturado confessou que foi numa penitenciária, onde se encontrava cumprindo pena por crime pequeno, que aprendeu as vantagens e técnicas do crime grande, os sequestros.

É preciso notar que os criminosos não são criminosos só por razões práticas, como dinheiro e poder. Eles são criminosos também por razões estéticas. Todos os homens desejam ser figuras lendárias, heróis, objetos de admiração, espanto ou mesmo de horror.

A felicidade do criminoso quando a sua fotografia aparece na primeira página do jornal! Há um enorme prazer em se sentir temido e odiado. O horrendo pode ser belo. Também os criminosos se alimentam de fantasias narcísicas! Na Idade Média havia uma forma curiosa de punir os criminosos. Eles eram colocados em pelourinhos com cabeças e mãos presas numa peça de madeira.

O pelourinho ficava numa praça pública. Ali ficavam os infratores, expostos ao riso e zombaria do povo. Essa situação de ridículo, imagino, se constituía num poderoso antídoto a quaisquer imagens heroicas que os criminosos pudessem ter de si mesmos. Não há narcisismo que resista à zombaria. Aí fiquei pensando se não haveria uma forma moderna de se aplicar esse castigo pedagógico e inspirado na psicanálise. O medo do ridículo é capaz de desencorajar muitas ações.

Já imaginaram?

Poderia haver praças dedicadas aos políticos corruptos, aos sequestradores, aos pedófilos, aos assassinos, etc., etc. Lá ficariam eles expostos ao riso público e, preferivelmente, com as partes pudendas à mostra. Se essa proposta é inviável, por razões práticas (não há praças em número suficiente, o número dos criminosos é muito grande), as autoridades competentes poderiam colocar na Internet um site com o nome de “Pelourinho”. Ali poderíamos ver a cara dos criminosos nas mais variadas versões.

Aí o povo começaria a rir deles. Quem sabe os criminosos se regenerariam, por vergonha…

Rubem Alves, no livro “Ostra feliz não faz pérola”. Editora Planeta, 2008.






Viver em harmonia é possível quando abrimos o coração e a mente para empatia e o amor.