O câncer é uma das doenças, que há décadas tem uma infinidade de estudos, pesquisas ao redor do mundo e está intimamente ligada ao nosso estilo de vida.

Em muitos casos, ele se apresenta de maneira silenciosa e quando se descobre, já é tarde demais.

Os tratamentos como quimioterapia, radioterapia, só funcionam quando o tumor é descoberto na sua fase inicial, pois quando ele entra em metástase, quer dizer, vai se alastrando pelo corpo contaminando outros órgãos, o que resta são apenas os cuidados paliativos.

Desde o último censo do IBGE em 2010, um fator que desencadeou um aumento do número do número de casos de câncer no mundo foi a obesidade.

As pesquisas no Brasil e no mundo revelam uma muito relação íntima, e de acordo com as estatísticas, a obesidade está ultrapassando o cigarro como fator causador de câncer.

Durante muitos anos, o cigarro foi o vilão principal e devido às campanhas de conscientização contra o hábito de fumar, a restrição de áreas para fumantes, o aumento da carga tributária sobre o maço de cigarro, houve uma diminuição do número de fumantes.

Em compensação, os obesos estão se tornando os protagonistas de uma história bem triste.

Seja porque os ex-fumantes estão compensando na comida ou porque as pessoas compensam suas ansiedades e frustrações numa alimentação errada.

Como o câncer se manifesta

O câncer se forma a partir de uma mutação nas células e esta mutação se dá graças a fatores externos como por exemplo o tabagismo, o hábito de fumar, que impulsionou os índices de câncer de pulmão.

O tabaco traz uma série de substâncias cancerígenas, a mais famosa é a nicotina. Cada tragada introduz trilhões de radicais livres no nosso corpo.

Um outro fator externo é o papilomavírus humano, o famoso HPV, aquele que causa câncer no colo do útero e é transmitido sexualmente.

E esta transmissão pode acontecer quando se pratica sexo oral, a penetração propriamente dita, genital com genital e também se você masturbar seu companheiro ou companheira. Então, cuidado, o contágio também pode ser pelas mãos.

Há também o vírus da hepatite C, que gera câncer no fígado, cuja transmissão se dá por receber transfusão de sangue contaminado, compartilhamento de agulhas, alicates de manicure mal esterilizados e também por via sexual.

De acordo com o INCA, o Instituto Nacional do Câncer, hospital referência para o tratamento desta doença, os fatores hereditários têm pouca influência. Na grande maioria de casos, o câncer não é hereditário.

Alguns tipos de câncer de mama, estômago e intestino é que podem apresentar o fator hereditário como determinante.

Perigos muito além do sobrepeso

Agora, a relação entre obesidade e câncer vem sendo estudada há mais de uma década em vários países.

Um boletim do Instituto Nacional do Câncer mostrou os seguintes números:

  • em 2006, cerca de 42% da população brasileira estava acima do peso.
  • em 2016, esta porcentagem foi para 53% da população, quer dizer, há cinco anos metade da população brasileira estava com sobrepeso.

Um outro estudo do INCA com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul divulgou que o gasto com casos de câncer relacionados à obesidade entre adultos ficou em R$ 1,4 bilhão do total de 3,5 bilhões aplicados em 2018 pelo governo federal no tratamento desta doença na rede do Sistema Único de Saúde.

É uma fatia considerável do orçamento e isto revela o quanto se deve investir em prevenção.

Este estudo é inédito e teve início no final de 2019 e o resultado foi publicado na revista científica internacional Plos One.

A Agência Internacional para Pesquisa em Câncer da Organização Mundial de Saúde confirmou vários estudos científicos que demonstraram que o excesso de gordura corporal pode desencadear mais de 10 tipos de câncer.

Câncer no estômago, no esôfago, pâncreas, fígado, intestino, vesícula biliar, mama, ovário e tireóide são alguns dos exemplos.

O risco da obesidade ser uma das causas do câncer não atinge apenas adultos. Crianças e jovens também podem ser alvo.

Dentre estes estudos da Agência Internacional para Pesquisa em Câncer da OMS, está uma pesquisa da faculdade de medicina da USP em parceria com a Universidade de Harvard em que os estados brasileiros com maior número de pessoas com a doença associada ao excesso de peso foram São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul.

Em 2018, a Universidade de Chicago descobriu que os tumores de mama são os mais vulneráveis ao excesso de peso. As mulheres obesas podem apresentar o câncer de mama triplo, que é um dos que mais mata e tem poucas chances de cura.

E para quem entrou no período pós-menopausa, a obesidade se torna um perigo.

No geral, o câncer se manifesta porque o excesso de tecido adiposo produz substâncias inflamatórias, a pessoa vive em um estado de inflamação crônica e a inflamação afeta a nossa imunidade.

Com a imunidade em baixa, as chances das células cancerígenas se proliferarem é imensa.

Em muitos casos, o excesso de gordura corporal imita o papel de uma glândula estimulando a fabricação de hormônios. São os chamados tumores hormônios-dependentes, eles precisam dessas substâncias para crescerem.

De acordo com os anais de gastroenterologia da Universidade Federal do Mato Grosso, foi apresentado um estudo em que se observou uma forte relação entre homens obesos e o aparecimento de células cancerígenas no esôfago, rim e cólon.

Neste mesmo estudo também foi observado que o tecido adiposo promove a expressão de enzimas que metabolizam os hormônios sexuais, que ficam livres e bioativos, que em contato com tecidos sensíveis à eles, proliferam as células cancerígenas.

Em todos estes estudos foi apontado também a mudança dos hábitos alimentares.

A população está consumindo cada vez mais alimentos industrializados como hambúrgueres, temperos prontos, nuggets e sucos de caixinha, que têm uma quantidade absurda de açúcar.

Os Estados Unidos enfrentam esta questão da obesidade acarretada pela má alimentação há décadas graças as poderosas redes de fast food. E isto gerou uma história curiosa.

O documentarista chamado Morgan Spurlock fez o filme “ Super Size me”, também conhecido como “A dieta do Palhaço” no ano de 2004.

O diretor se colocou como cobaia, comendo fast food no café da manhã, almoço e janta durante um mês.

Para provar as alterações físicas, o diretor fazia exames antes, durante e depois do documentário e teve um rígido controle médico no período.

O resultado foi desastroso, porque além de engordar 11 quilos, o acompanhamento das taxas nos exames de sangue mostrava elevações que nem os médicos esperavam.

Morgan fez este filme motivado pela história de duas mulheres que quiseram processar a rede de fast-food pela obesidade adquirida e não conseguiram.

E aqui no Brasil foi feito o documentário “Muito além do peso”, que trata da obesidade infantil. Uma crítica ao mote “criança com saúde é criança gordinha”.

O consumo exagerado de alimentos industrializados com carboidratos refinados e cheios de açúcar fez com que a obesidade infantil também se tornasse um caso de saúde pública.

Uma das medidas para combater esta doença, seria cobrar do poder público uma merenda escolar mais saudável tanto na rede pública quanto na rede privada de ensino.

Uma medida polêmica, mas exitosa, sobre controle e redução da obesidade e o sobrepeso aconteceu no México que adotou a seguinte política pública.

O governo mexicano criou um imposto especial de consumo por litro de bebidas açucaradas, isto levou à redução das vendas destas bebidas em 8%.

O Brasil também participa do combate à obesidade. Em 2014, ao lado de outros países das Américas, assinou o Plano de Ação para a Prevenção da Obesidade em Crianças e Adolescentes, durante o 53º Conselho Diretor da Organização Pan-Americana da Saúde e lançou o Guia Alimentar para a População Brasileira.

E como dizem os médicos de saúde integrativa: “Descascar mais e desembalar manos”, afinal, somos aquilo que comemos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 






Viver em harmonia é possível quando abrimos o coração e a mente para empatia e o amor.