Censos demográficos, avanços da medicina e a busca por um estilo de vida mais saudável revelam que a população mundial está envelhecendo.

No texto abaixo, o Papa Francisco aponta a crueldade de um sistema que enxerga a pessoa enquanto ela produz, ignorando-a quando fica impossibilitada de trabalhar.

Assim como a indústria fabrica bens com obsolescência programada gerando uma pilha de objetos descartados, os idosos também são objetos da cultura do descarte.

Apesar de muitos empreenderem na terceira idade, seja para realizar antigos projetos ou por complementação da aposentadoria, uma boa parcela busca uma recolocação no mercado de trabalho, mas enfrentam o preconceito das empresas que não apostam na interação entre gerações.

No Brasil há mais de 29 milhões de pessoas idosas, e a expectativa é de que esse número ultrapasse os 73 milhões em 2060.

Os idosos somos nós

Graças aos progressos da medicina, a vida prolongou-se: mas a sociedade não se “abriu” à vida! O número de idosos se multiplicou, mas a nossa sociedade não está suficientemente organizada para dar-lhes lugar, com respeito justo e consideração real por sua fragilidade e sua dignidade.

Enquanto somos jovens, somos levados a ignorar a velhice, como se fosse uma doença que deve ser mantida a distância; quando, depois, ficamos velhos, especialmente se somos pobres, se somos doentes sem ninguém, experimentamos as lacunas de uma sociedade programada para a eficiência e que, consequentemente, ignora os idosos. E os idosos são uma riqueza, não podem ser ignorados.

Uma cultura do lucro insiste em fazer os velhos parecerem um peso, um “lastro”. Não apenas não produzem, segundo essa cultura, mas são um ônus: em suma, qual é o resultado de se pensar isso? Eles precisam ser descartados.

É horrível ver os idosos descartados, é feio, é pecado! Não se ousa dizê-lo abertamente, mas se faz! Há algo vil nesse costume da cultura do descarte. Mas estamos habituados a descartar as pessoas.

Queremos remover o nosso medo crescente da debilidade e da vulnerabilidade; mas, assim, aumentamos nos idosos a angústia de serem abandonados e de não receberem auxílio.

Os idosos são homens e mulheres, pais e mães que estiveram antes de nós na nossa mesma estrada, na nossa mesma casa, na nossa batalha diária por uma vida digna. São homens e mulheres dos quais recebemos muito.

O idoso não é um estranho. O idoso somos nós: cedo ou tarde, mas, inevitavelmente, mesmo que não pensemos nisso. E se nós não aprendermos a tratar bem os idosos, do mesmo modo seremos tratados.

Todos nós, velhos, somos um pouco frágeis. Alguns, porém, são particularmente fracos, muitos são sozinhos e afetados por doenças. Alguns dependem de cuidados indispensáveis e da atenção dos outros. Por isso daremos um passo para trás? Vamos abandoná-los ao seu destino?

Audiência, 4 de março de 2015.

Papa Francisco, texto “Os idosos somos nós” do livro “Quem sou eu para julgar?”,  Libreria Editrice Vaticana, 2016 Città del Vaticano






Viver em harmonia é possível quando abrimos o coração e a mente para empatia e o amor.