Neste ano de 2019, em pleno centro-oeste brasileiro, a cidade de Dourados no Mato Grosso do Sul tem sido um lugar de conquistas inimagináveis de alguns povos indígenas que moram na região como os guarani-kaiowás e terenas.

Em meio à um cenário de extrema pobreza, disputa de terras e violência, a cultura indígena encontrou na música uma forma de resistência. Quatro jovens da etnia guarani-kaiowá formaram o primeiro grupo de rap chamado Brô Mc’s na aldeia Jaguapiru, no interior da Reserva Indígena de Dourados –que é formada também pela aldeia Bororó, sendo a maior reserva indígena urbana do Brasil.

revistaecosdapaz.com - Índios usam rap e literatura como ferramentas de resistência
Brô Mc’s empolga a galera num dos seus shows.            Foto: Divulgação

Tudo começou quando Bruno Veron ainda estudava na Escola Municipal Indígena Araporã em 2006. O diretor pediu que os alunos fizessem um trabalho sobre o meio-ambiente que fugisse do lugar comum e Bruno teve a ideia de misturar o guarani com o português em rimas de hip-hop. Três anos mais tarde ele se uniu aos colegas Clemerson Batista, Kelvin Peixoto e Charlie Peixoto para formar o Brô Mc’s.

O grupo já gravou CD e se apresentou em diversas partes do país como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Brasília, além de inspirar outros jovens indígenas a criar outros grupos de rap.

Em 2017 o grupo alçou vôos mais altos se apresentando no Festival Internacional de Berlim, um dos mais prestigiados festivais de cinema com a música “Terra Vermelha”, de autoria do grupo, que faz parte da trilha sonora do filme “Em busca da terra sem males”, da diretora Anna Azevedo. Segundo Bruno, é uma honra poder apresentar a voz das comunidades indígenas para a sociedade em geral, poder quebrar os esteriótipos
de sempre, que índio anda nu e mora em ocas.

Da resistência dos mais velhos à série de tv

revistaecosdapaz.com - Índios usam rap e literatura como ferramentas de resistência
Set de filmagem da série “Guateka” em Dourados – MS. Foto: Jean D. Borges

Como tudo o que é novo e diferente assusta, Bruno conta que sofreu preconceito dos rappers por acharem que os índios estavam fazendo uma apropriação cultural como das lideranças da tribo. A partir da gravação do primeiro CD os contratempos foram esfeitos e hoje tem total apoio de todos, a ponto dos caciques da tribo ajudarem com as histórias que eles querem contar.

No youtube existem vários canais indígenas e um deles é o Guateka, criado em maio de 2014, que ajuda a divulgar a criação do grupo. O canal dá nome à uma série de tv, que começou a ser exibida na TV Cultura  neste mês de agosto sempre às sextas feiras. Todos os episódios poderão ser acompanhados na TV pelo canal digital 4.1 e 15 da NET em Campo Grande, 13.1 na Grande Dourados, nas cidades onde o sistema analógico da TVE Cultura esteja disponível ou ainda pelo satélite StarOne C2 e também no Futura Play.

A série Guateka tem 5 episódios e narra o cotidiano destes quatro jovens indígenas, o início da carreira do grupo e como eles levam suas músicas para o mundo conhecer mais sobre a reserva. Criada pela Plug Produções da cidade de Dourados sob a direção de Thiago Rotta, Guateka foi contemplada com recursos do Prodav 10 (Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Audiovisual Brasileiro), da Ancine (Agência Nacional do Cinema).

Revitalização das línguas indígenas

O lançamento dos livros “Guaiguingue” e “Turí ne Terenoehiko”, escritos pelos professores indígenas respectivamente nas línguas Guarani e Terena, com tradução para a Língua Portuguesa tem como objetivo a preservação e revitalização das línguas indígenas como elemento cultural fundamental no fortalecimento da identidade dos seus povos. Nestes livros o crédito da autoria é do contador oral.

A história de “Guaiguingue” foi contada para os professores Guarani e Kaiowá pela mestra tradicional Guarani, Nhandesy Tereza Espíndola, moradora da Aldeia Bororó, em Dourados. Trata-se de um mito que ensina a não ter preconceito contra o diferente. O mito narra a história de como foi criado o pássaro chamado Guaiguingue, conhecido como Urutau.

Já “Turí ne Terenoehiko” relata a história da origem do povo Terena. O mito da criação foi contado pelo ancião Guilherme Felipe Valério, morador na terra indígena de Dourados, e a história escrita pelos professores indígenas é uma forma de possibilitar às crianças o conhecimento desta versão do mito da criação do povo Terena.

Este lançamento fez parte da programação da Mostra Saberes Indígenas na Escola,com a participação da Secretaria Municipal de Educação. A UFGD é uma das realizadoras das publicações por meio da Faculdade Intercultural Indígena (FAIND) e da participação na ASIE/MEC, que faz formação continuada de professores indígenas.

*As obras estão disponibilizadas para acesso gratuito na internet no catálogo da Editora UFGD e pela biblioteca do programa Saberes Indígenas.

 

Fontes: Nexo Jornal, Dourados News e Agora MS






Viver em harmonia é possível quando abrimos o coração e a mente para empatia e o amor.